A cruz em tempos de covid-19
Parece que, na ausência de representações teatrais, procissões, sermões, ou filmes sobre a crucifixão de Jesus, este ano impõe-se a própria realidade como forma de reflexão sobre um elemento central da fé cristã, a morte de Jesus. É duro que assim seja, mas nestas alturas é mais que evidente que estamos nesse ponto. Cada um de nós ocupa uma posição relativamente à cruz neste cenário macabro: os doentes e falecidos cravados nela junto das suas famílias, os profissionais da saúde e o pessoal essencial ao pé da cruz acompanhando os que sofrem, os que tentam tirar algum proveito económico protegendo-a para que seja visível por todas, pessoas de outros lugares do mundo vendo-a passar através do ecrã do seu televisor ou telefone móvel, a população confinada nas suas casas alheando-se com medo dela, como os discípulos e, finalmente, deus ocupando o mesmo lugar que no passado, o da ausência.